A característica de que, fenomenológico existencial dialógica, a metodológica das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais dialógicas, a Gestalt e a Abordagem Rogeriana, não é, naturalmente, teorética -- já que privilegia o modo de sermos da consciência pré-reflexiva, compreensiva e implicativa, o modo de sermos da consciência do ator; e não o modo teorético e explicativo de sermos da consciência do espectador -- pode levar, e facilmente leva, à errônea  conclusão de que, não teorética, a metodologia destas abordagens seria prática.
 
Nada mais errôneo. Porque, eminentemente, própria e especificamente, não teorética; da mesmíssima forma, a metodológica fenomenológico existencial dialógica da Gestalt e da Abordagem Rogeriana não é prática. Pragmático, pragmético, o prático se orienta pela utilidade, pela funcionalidade e pela adaptação. O modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, cujo privilegiamento caracteriza radicalmente a metodologia dessas abordagens, não é da ordem do modo de sermos, explicativo e acontecido, dos úteis e das utilidades. Da mesma forma que não é funcional, é desfuncional. E a sua implicação não é a adaptação e a conservação, mas a superação.

O teórico e o prático se constituem como modos de conhecimento. Mas, nem o teórico, nem o prático é o modo ontológico de conhecer; nem o teórico nem o prático é o modo fenomenológico existencial dialógico, compreensivo e implicativo de conhecer; de ciência implicativa, de consciência pré reflexiva, fenomenológica.

Uma característica primariamente distintiva é a de que tanto o modo teorético, como o modo prático de sermos, tanto o modo teorético como o modo prático de conhecermos fundam-se na coisidade instalativa do acontecido. 

Enquanto que o modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, funda-se no devir constitutivo da consciência compreensiva e implicativa do acontecer.

Mais que isto, a consciência compreensiva e implicativa do acontecer se constitui como acontecer na medida em que se constitui como consciência pré-reflexiva da ação, consciência pré-flexiva, fenomenológica, do desdobramento de possibilidades. 

Dimensão cognitiva, consciência pré-reflexiva, fenomenológica, da ação; do desdobramento de possibilidades, consciência do ator; a consciência compreensiva e implicativa do acontecer, da ação, é consciência e ação produtivas, é atualização de possibilidades, é o vir a ser do possível. Sendo, assim, própria e especificamente, poiéticas.

Este seu aspecto marca uma distinção fundamental da consciência ontológica com relação à consciência teorética e com relação à consciência prática. Explicativas, estas se fundam, como dissemos, no acontecido; no acontecido da condição instalativa da coisidade. De modo que elas não são consciência produtiva, não são consciência e ação criativas, em específico, não são consciência e ação poiéticas.

O poiético é a ética do possível, a ética da ação, da atualização compreensiva de possibilidades. A ética da vivência de possibilidades e do desdobramento de possibilidades, no modo de sermos fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo da ação.

Como a experiência do modo teorético e do modo prático de sermos não é o modo de sermos da vivência de possibilidades e do desdobramento de possibilidades, o modo teorético e o modo prático de sermos e suas respectivas consciências não modos e consciência poiéticos de sermos...

Fundada no modo de sermos do acontecido, a consciência prática invoca e se fundamenta na utilidade.

Ora, um dos aspectos mais característicos do modo de sermos e da consciência ontológicos, fenomenológico existenciais dialógicos, compreensivos e implicativos, é a sua impertinência ao modo de sermos dos úteis e das utilidades. Da mesma forma que não são da ordem do modo de sermos da dicotomia sujeito objeto, do modo de sermos da relação de causa e efeito, e da ordem do modo de sermos do real e da realidade.

O modo de sermos ontológico é desproposital, disfuncional, e da ordem da inutilidade.
 

A utilidade, a funcionalidade, e a propositalidade -- impertinentes ao modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo -- são inerentes ao modo prático de sermos e à consciência prática.
De modo que, na mesma medida que o modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, não é da ordem da teorética, não é teórico, ele não é também da ordem da prática, ou de qualquer pragmática. A não ser que estejamos falando de uma pragmática do inútil. 

Por outro lado, a prática se orienta para a funcionalidade e para a adaptação, para a conservação. O modo ontológico de sermos é, própria e especificamente, disfuncional. Na medida em que, acontecer, reorganiza todo o acontecido. E, se insurgindo contra o estabelecido, instala um novo status quo sempre, não funcionalizando, nem adaptando. Não funcionalizando nem adaptando ao acontecido. 

A movimentação de sua vivência se dá, sempre, não no sentido da adaptação, mas no sentido da superação. E é a isto que se remete a frase de Nietzsche, através do Zaratustra, quando observa: e eis o que segredou-me a existência: eu sou aquilo que se auto supera indefinidamente... 
 
Assim, é importante e interessante considerarmos  o caráter especificamente poiético do modo ontológico, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo de sermos, e da metodologia das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais e dialógicas -- a Gestalt e a Abordagem Rogeriana. Especificamente não teoréticas, nem práticas. Poiéticas.

 
7/11/2012 02:09:12 pm

Nice article dude

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:-). Thanks.
7/11/2012 06:43:14 pm

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