O termo e o conceito de implicação são extremamente importantes para a definição e caracterização da perspectiva fenomenológica. Quando menos, porque o conceito de im-plicação caracteriza o fenomenológico, em contraposição ao termo e ao conceito de ex-plicação. 

Simplesmente, a ex-plicação é o modo de sermos que não é a im-plicação. O modo de sermos que não é a vivência de consciência fenomenológica, pré-reflexiva. Ou seja, explicação é o modo teorético de sermos, e o modo comportamental de sermos. Que não são implicação, não são implexação.  E, fora do modo de sermos da implicação, são portanto o modo de sermos da explicação.

Uma característica fundamental da vivência fenomenológica, pré-reflexiva, do modo ontológico de sermos, é a sua inesgotável multiplicidade. Multiplicidade que, vivencialmente, apresenta-se artisticamente, de um modo significativo, como um processo fluente de formação e de contínua sucessão de totalidades significativas, de gestalts, enquanto um rico processo de formação de figura e fundo, um processo de gestaltificação. De implicação. 

Donde podemos entender que gestaltificação e implicação são exatamente sinônimos. Ou referem-se à mesma vivência do processo de formação de figura e fundo, de totalidades significativas, da vivência de consciência,  fenomenológico existencial e dialógica.

Um aspecto fundamental da implicação, da gestaltificação, da compreensão, é o de que a vivência fenomenológica na qual elas se constituem se dá como ato, como ação; ou seja, se dá como vivência de de uma multiplicidade de possibilidades, o que quer dizer -- já que as possibilidades, como forças, só existem em seus desdobramentos -- como vivência do desdobramento de uma multiplicidade de possibilidades, em padrões de articulação das multiplicidades em processos de formação de figuras e fundos, padrões de articulação de gestalts. Que, nos seus desdobramentos, são o acontecer. Que dura até a gradativa extinção da força da articulação de possibilidades. Quando então elas se coisificam. Constituindo, enquanto coisificadas, as condição do sujeito e do objeto. De um sujeito que contempla um objeto. Contemplação que caracteriza o teorético modo de sermos da explicação. E a condição do ente, enquanto condição da coisidade, que é a  condição da possibilidade exaurida.

Não obstante, a duração da vivência do ato, a duração da vivência da ação, enquanto desdobramentos de possibilidades, a duração da vivência do processo de formação de figura e fundo, não é da ordem do acontecido, é acontecer, e não é da ordem da coisidade. De modo que, em sendo dialógica eu-tu, não é da ordem da dicotomia sujeito-objeto. A vivência da implicação, a gestaltificação, é acontecer, e não é da ordem da dicotomia sujeito-objeto, não é da ordem da objetividade, nem da subjetividade, mas da ordem da dialógica eu-tu, da ordem da condição -- não do sujeito -- mas da condição da ação, da condição do ator. Inspectador, e não espectador. Não teorético, mas fenomenológico existencial e dialógico; compreensivo, implicativo, inspectativo, gestáltico. Não é da condição do ente, mas, acontecer, da ordem do pré-ente, do presente.

Um aspecto fundamental da gestaltificação, da implicação, da compreensão, da inspectação, da vivência fenomenológico existencial, pré-reflexiva, é que, caracteristicamente, elas são sempre a vivência de uma multiplicidade de possibilidades. Que, em sua contínua geração , se constitui como um processo de consciência fenomenológica, pré-reflexiva. No qual a multiplicidade de possibilidades se articula, e se dissolve, perenemente, num processo de figuração, num processo de formação de figura e fundo, à medida em que se constituei como consciência pré-reflexiva..  Essas totalidades significativas, que são as gestalts, são plexos, enquanto totalidades -- de multiplicidades -- organizadas. A raiz Grega para o termo, e conceito, de plexo é plic. Daí o termo e o conceito de implicação, significando a vivência fenomenológica do processo de formação de gestalts. De figuração, de formação de figura e fundo. A partir das articulações de multiplicidades de possibilidades.

A compreensão tem em essência o mesmo sentido que implicação, e que gestaltificação. Referindo-se, especificamente, ao processo organizado, enquanto totalidades organizadas significativas, de consciência pré-reflexiva, de figuração, de formação de figura e fundo, de formação de gestalts, a partir da vivência do desdobramento de um plexo, de uma multiplicidade organizada, de possibilidades. 

Pense em como um grampo, através de sua preensão, organiza e enfeita, embeleza, inclusive, uma mecha de cabelos. Este é o efeito gestáltico, implicativo, preensivo, com-preensão, com-preensivo, na organização sucessiva dos plexos, das multiplicidades de possibilidades, no processo implicativo de formação de figura e fundo, de figuração, de formação de gestalts, de gestaltificação.
 


 

 
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