A genuinidade do psicólogo, do psicoterapeuta, do pedagogo, do facilitador de grupos, é uma das condições metodológicas da abordagem rogeriana. A genuinidade, não tem aqui um sentido moralista, ou metafísico. Igualmente, não tem o sentido de uma consonância com uma suposta vida interior.

Ao nos relacionarmos inter humanamente, dialógicamente, com o outro, somos constantemente outros. O modo dialógico de sermos, fenomenológico existencial, é o modo de sermos em que na relação com o outro somos constantemente outros. Outros com relação ao(s) parceiro(s) da relação. E outros com relação a nós próprios, com relação ao passado de nós próprios, já que o modo fenomenológico existencial, e dialógico, de sermos é o nosso presente, a nossa presentidade. Modo de sermos do presente, caracterizado pela vivência do desdobramento de possibilidades que é a ação. Cuja atualização implica na constante emergência e atualização da outridade de nós próprios.

A originalidade, a genuinidade, a autenticidade de nós próprios, nós outros, portanto, não está na mesmidade de uma identidade. Não está na mesmidade de uma identidade com o passado de nós próprios.

Na condição do passado de nós próprios -- a condição específica de ente, de coisa, impotente, sem forças/possibilidades --, cada vez mais nos angustiamos, como observava Heidegger.

E a própria angustiação nos conduz, da condição de ente -- de coisa, impot-ente --¸ à condição originária e ontológica de pré-ente. Da condição de ente, ao pré-ente, à pré-ença. À presença. Ao não só fenomenológico, mas ontológico modo dialógico de sermos, do presente: o modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos, compreensivo e implicativo; gestaltificativo.

Que é -- todo ele, na constatação de Buber --, atualidade. Atualização. Ação. Todo ele ação, na momentaneidade instantânea da eventualidade de sua duração, como duração da vivência fenomenológico existencial do desdobramento de possibilidades.

Isto quer dizer que é todo ele, este modo ontológico de sermos, vivência de forças, vivência de possibilidades, que se desdobram em ação. É todo ele -- o modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos, compreensivo e implicativo, gestaltificativo -- desdobramento cognitivo, consiência pré-reflexiva, fenomenal, de forças, da vivência do desdobramento de possibilidades, ou seja, ação. Atualização.

As possibilidades, as forças que se dão em nossa vivência ontológica, fenomenológica, dialógica, de ser no mundo, continuamente emergem, e se desdobram, fenomenológico existencialmente; e são sempre radicalmente outras e inéditas, infinitamente outras e inéditas, as forças que constituem a nosas vivência ontológica.

A figurarem gestaltificativamente, e, na ação, a configurarem o nosso devir, a nossa superação, e o sujeito no qual continuamente nos constituímos, junto com o mundo que nos diz respeito.

Diferentes, diferenças, inéditas as possibilidades, somos sempre outros, ao atualizá-las, ao desdobrá-las vivencialmente, fenomenológico existencialmente, ao agirmos. Inéditos.

De modo que a originalidade ontológica de nós próprios, nossa genuinidade, nossa autenticidade, é, sempre, fenomenológico existencialmente, a orginalidade e a autenticidade de, como atores, sermos recorrentemente e constantemente outros.

Ser ator, agente, é ser outro (Mafffesoli), ser outro é ser ator. É ser ação, como vivência fenomenológica do desdobramento de possibilidades.

É esta a nossa cíclica, renovativa e regenerativa, originalidade. A nossa cíclica e renovativa genuinidade e autenticidade. A autenticidade de sermos constante, cíclica, renovativa, e regenerativamente, outros.

É a presença da genuinidade desta outridade, característica da vivência do modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos -- compreensivo e implicativo, gestaltificativo -- que se constitui como uma das condições da metodológica fenomenológico existencial da abordagem rogeriana.

Desnecessário dizer que, como no caso das demais condições da metodológica da abordagem rogeriana, existe uma fundamental meta condição das condições metodológicas. Que é a da aquiescência com a momentaneidade instantânea da vivência do modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos, compreensivo e implicativo, gestaltificativo. Uma aquiescência com o modo cognitivamente ativo, especificamente atualizativo, de sermos.

Na vivência deste modo ontológico de sermos é que podem, sine qua non, deitar raízes, na momentaneidade instantânea da relação, e frutificar, não só a empatia e a consideração positiva incondicional -- que, junto com a genuinidade, formam o conjunto de condições metodológicas formuladas por Carl Rogers --, mas a própria ação, a própria, atualização, a própria tendência atualizante. E mesmo, naturalmente, a própria tendência formativa, como característica especificamente gestaltificativa da ação, como característica especificamente gestaltificativa da tendência atualizante. Enquanto processo formativo de coisas, na duração da vivência fenomenológico existencial de formação de figuras e fundos da ação, da atualização, da tendência atualizante.

Naturalmente que medra todo tipo de distorções improdutivas com relação à noção de genuinidade da abordagem rogeriana – assim como com relação às outras de suas noções.

Com relação a uma noção de genuinidade, naturalmente, as fáceis e explicativas interpretações moralistas e metafísicas ganhariam uma predominância. Estas interpretações contradizem uma noção fenomenológica de genuinidade. Na medida em que se afastam da premissa básica da genuinidade fenomenológica e existencial, que é a vivência, que é o modo fenomenológico de sermos, a afirmação do modo fenomenológico e existencial de sermos. Físico, e nunca metafísico. Ético, estético, poiético, e nunca moralista...

Para privilegiarem o modo conceitual, o modo reflexivo, metafísico, explicativo, não implicativo, nem compreensivo, de sermos.

Reduzindo a genuinidade a uma identidade com um modelo ideal, teórico, conceitual. Explicativo. Acontecido. Não fenomenológico, nem existencial... Desconsiderando a genuinidade como a presença da vivência do desdobramento cognitivo do possível. Que chamamos de ação, de atualização.

Ou, de modo inconsistentemente objetivista, tratando de reduzir a genuinidade às expressões de uma ‘vida interior’.

Vida interior inexistente, em termos existenciais. Na medida em que, como nos adverte Nietzsche, a existência não tem dentro. E toda vida interior é doença...

A existência é a projetação, o pro-jeto (jato), projatação, da insistência (eksistencia ontológica). Ou seja, a vivência, pré-reflexiva, pré-conceitual, fenomenológico existencial, e dialógica, compreensiva, e implicativa; o movimento, a moção, e-moção, e motiv-ação, como pressão, ex-pressão, do desdobramento pré-reflexivamente cognitivo das forças que são as possibilidades.

As possibilidades emanam projetativamente, ex-pressivamente, do Ser. E se constituem em nossa vivência de ser no mundo. Na qual não se distinguem ainda sujeito e objeto, interior e exterior. Tal é a inconsistência da ideia de uma vida interior como fonte de nossa verdade, de nossa originalidade, de nossa genuinidade, de nossa autenticidade... Ontológicamente, não somos uma vida interior. Nossa originalidade e nossa autenticidade não está numa suposta vida interior. Numa suposta interioridade.

Referindo-se à interiorização, bem humorado, Nietzsche diria antológicamente, sobre o caráter reflexivo da vida interior -- na miríade de suas frases antológicas:

Cuidado! Ele está a refletir. Vai defender a sua mentira... kkkkk (sorry)

Em momentos diversos também Rogers e Perls dizem frases antológicas. Em que, por pouco, mas com graves implicações ontológicas e epistemológicas, erram na forma. Nas palavras:

Rogers diria: Os fatos são amigos.

Como era bôbo, meus deuses...

Não, não, Rogers!!!

Os fatos não são amigos!!!

Os fatos são fatos. E são especificamente feitos, viu?

E são amigos se, na performance do seu perfazimento, competentemente, damos tempo à ação do possível para fazê-los assim. Mas de qualquer forma, é inexorável, os fatos não são amigos, além da possibilidade de celebrá-los como bem feitos, bem fatos.

Além disso, os fatos são fatais. Fatídicos. Fatalidades... Além disso, a própria fatalidade (Buber).

Da qual temos que nos livrar, nas asas da alegria, da tristeza, ou da angústia... Para retornarmos ao modo de sermos do eterno retorno do possível, ao modo de sermos do eterno retorno da vontade de possibilidade, da vontade de tudo – tão diferente da vontade de nada que é o niilismo, que impera na fatalidade e no fatalismo dos fatos.

Não, os fatos não são amigos.

Retornados ao modo de sermos do eterno retorno do possível, já não estamos mais no domínio dos fatos, do feito, da fatalidade. Mas, mais uma vez, viajamos na potência das velas do possível. Do desdobramento de possibilidades...

Já não estamos mais no domínio dos fatos, mas no âmbito dos atos. No âmbito próprio da ação, da atualização. Que continuamente nos gera e regenera, como constantemente possíveis, como constantemente outros, como constantemente atores. A fonte da possibilidade, da genuinidade da outridade, da outridade da genuinidade, a fonte de nossa originalidade, de nossa genuinidade, de nossa autenticidade.

Outro que pensaria que perdeu um bom momento para ficar calado foi Fritz Perls. Quando pronunciou uma de suas frases mais geniais – se entendermos, como a Rogers, para além das palavras. Perls disse:

O núcleo do real é a ação.

Que nada, Perls...

O núcleo do real é apenas a realidade. A real ordem do rei.

Senhor rei mandou dizer...

O acontecido, o passado, a coisidade, o impossível, o impotente, o fato, a fatalidade, a explicação...

Mas, entendemos que não foi isso que você quis dizer, apesar de se embananar nas palavras... Entendemos que, na verdade, você quis dizer:

O núcleo do verdadeiro é a ação.

Aí está o caráter genial de sua frase. Que o coloca no nível dos grandes e patéticos ontologistas e epistemólogos do século XX... E você entendia muito bem o que era isso, e o que isto queria dizer...

Há uma distância de mundos entre a realidade e a verdade...

Na verdade, apenas, uma distância entre modos de sermos. O modo de sermos da realidade não é o modo de sermos da verdade. O modo de sermos da verdade é o modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo, gestaltificativo. Especificamente o modo de sermos do acontecer.

O modo de sermos da realidade, como o nome indica, é o modo de sermos do acontecido, da coisa, do fato; e, no seu abuso, droga pesada, na hiper realidade, o modo de sermos da angústia, do fatalismo e da fatalidade, da impotência progressiva, da morte – a possibilidade da impossibilidade de toda possibilidade... Como dizia Heidegger.

De modo que Perls queria, evidentemente, dizer: o núcleo do verdadeiro é a ação.

Assim como Rogers queria dizer: os atos são amigos.

Amicíssimos, generosos, misteriosos, dádivas. Misteriosamente generosos, e dadivosos. Nietzsche já diria: a ação é um mistério...

O próprio possível, a força da possibilidade Não é à toa que se chamam de presentes.

E uma das dádivas generosas do modo de sermos dos atos, da ação, da atualização, fenomenológico existencial, compreensiva e implicativa, é que, própria e especificamente, ele é dialógico. Ou seja, ele é, também, o modo de sermos do compartilhamento (dia) do sentido (logos). O modo de sermos no qual compartilhamos sentido (logos) com o sagrado, com a natureza não humana, e com os outros seres humanos, no inter humano.

Uma das dádivas generosas do modo de sermos dos atos, do modo de sermos de nossa genuinidade, é que ele é o modo dialógico de sermos, no qual compartilhamos o processo poiético de produção de sentido, com os outros seres humanos, com a natureza não humana, e com o sagrado.

A última fase da vida do Rogers, a dos grandes grupos vivenciais, a partir de 1974, é fase de uma interessante e impressionante radicalização fenomenológico existencial. Digo do ponto de vista vivencial, ontológico, epistemológico, e metodológico. Toda a demanda existencial dos anos cinquenta e sessenta parece ter explodido dentro dos laboratórios do Dr. Carl Rogers. Principalmente na vivência, concepção e método dos grupos vivenciais. Os paz e amor da era hippie eram agora Phds. E, frequentemente, muito pouco convencionais... Dr. Rogers, inclusive, frequentemente assumia ares de um avôzinho degenerado...

Foi uma fase intensamente vivencial, e não teorética. E não resultou num movimento coletivo de teorização das importantes aprendizagens que se deram naquele período experimental. Foram formulações experimentais, e aprendizagens, muito importantes. Para todo o paradigma da abordagem rogeriana, para a concepção e método do trabalho com grupos, para a concepção e método da psicoterapia fenomenológico existencial, para a psicoterapia em geral, e para a ontológica, epistemológica e metodológica de uma ciência ontológica, epistemológica e metodológicamente compreensiva, e implicativa. Superando ousadamente, na ação, os estreitos limites do paradigma da ciência explicativa, no que concerne ao trato com as pessoas e com os grupos.

Isso não é pouco. As histórias futuras da Fenomenologia existencial, da psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial, as histórias futuras da Ontologia e da Epistemologia da ciência compreensiva, terão, sem dúvidas, que mencionar as experiências e experimentações rogerianas, principalmente no que concernem aos trabalhos com grupos.

Pela experimentação e aprendizagens desta época, fica claro que as condições terapêuticas formuladas originalmente são, na verdade, características, ou dimensões de uma metacondição específica. Que é a subsunção epistemológica e metodólogica delas a uma fenomenológica, a uma dialógica, a uma ontológica.

Ou seja, as condições terapêuticas, pedagógicas, e facilitadoras preconizadas originalmente subsumem-se em uma epistemológica fenomenológico existencial, e são, na verdade, aspectos e dimensões da vivência fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, gestaltificativa. Assim o são, própria e especificamente, a empatia – a compreensão empática, que é uma designação redundante, uma vez que toda compreensão é empática, e toda empatia é compreensiva... --, a consideração positiva incondicional pela experiência do cliente, e a genuinidade do terapeuta.

Assim, quando se trata de genuinidade, não se trata da fidelidade a uma vida interior, introspectiva, subjetiva ou objetiva, explicativa e teorética. Mas a abertura, como dizia Heidegger, da liberdade para verdade do vivencial, no âmbito da dialógica de uma relação fenomenológico existencial, compreensiva, implicativa, gestaltificativa.

Num primeiro momento, desenvolvendo uma Psicologia e uma Psicoterapia da relação. Carl Rogers tentava superar a neutralidade, objetividade e frieza de uma postura técnica, de uma postura cientificamente explicativa. Desde o início, Carl Rogers entendeu perfeitamente, que, em se tratando de gente, uma ontologia, uma epistemologia, uma metodologia, uma ética, explicativas não atenderiam às demandas da condição humana. Por isso que tratava-se de abrir mão, enquanto postura metodológica, da fatalidade e do fatalismo, da artificialidade, da explicação; e abrir caminho para uma ontológica, para uma epistemológica, para uma metodológica, para a ética de uma ciência própria e especificamente compreensiva, e implicativa.

Esta, própria e especificamente, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, gestaltificativa, só faz sentido no âmbito de uma genuinidade. Que termina ficando clara, posteriormente, como a genuinidade da verdade da abertura vivencial, que é toda ela a cognitiva fenomenológico existencial da ação, do desdobramento de possibilidades.

Carl Rogers quer abrir mão do engessamento explicativo do institucional. E entende que, para além do institucional, para aquém da explicação, existe a possibilidade de relações inter humanas, implicativas, dialógicas, compreensivas, fenomenológico existenciais. Que reconhecem, e afirmam o institucional. Mas que o têm como chão, e não como teto, como limite. De modo que não vê mais como necessário a crônica definição, e a crônica limitação da relação ao explicativo e ao institucional. Na verdade, passa a ver a necessidade de superação dessa limitação ao engessamento institucional e explicativo da relação entre psicólogo e cliente, entre terapeuta e cliente, ente facilitador e grupo, entre professor e aluno... A definição da genuinidade, e de sua importância como elemento ético e metodológico, surge neste contexto.

Para além da superação da relação institucional, há a necessidade de franqueza por parte do psicólogo, do pedagogo. E não só a franqueza, num sentido moral, mas as próprias condições de ser franco, e engajar-se no que Buber define, no Do diálogo e do dialógico, como conversação genuína. Ou (op.cit) como a abertura, em detrimento da imposição, enquanto modo de relação.

Rogers teorizará sobre a genuinidade do terapeuta a partir de sua teoria do fluxo da experiência[1]. A genuinidade é então o estado de acordo do terapeuta... Uma teoria útil e interessante durante um certo momento. Mas bastante precária do ponto de vista teórico e epistemológico.

Depois das avassaladoras experiências, experimentações, e aprendizagens com os grupos vivenciais, que já não são mais os Grupos de Encontro, é que podemos entender que a genuinidade, como as outras condições da metodológica da abordagem rogeriana, na verdade são elementos de uma condição maior, à qual se subsumem: a ética ontológica fenomenológico existencial, a metodológica epistemológica da vivência da ação, da atualização, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva, implicativa, gestaltificativa.

De modo que a genuinidade é a genuinidade da ação. A genuinidade do modo ativo de sermos, do modo afirmativo de sermos. A genuinidade de sermos outros. Em particular porque é só a duração na insistência, no modo de nos atualizarmos como outros, que nos permite a vivência da duração na dialógica inter humana, na qual é possível inter agir com a outridade do outro. E com a de nós próprios.

Genuínos sejamos, é a consigna do método.

Mas não reflexivamente, não conceitualmente, não teóricamente, não explicativamente, não moralisticamente, não fatalísticamente, não realísticamente, não na identidade do mesmo.

Mas genuínos na momentaneidade instantânea fenomenológico existencial da vivência da ação, da vivência fugaz e duradoura da condição do ator, que se confunde com a condição de ser outro.

BUBER, Martin Eu e Tu.

                        - Do Diálogo e do Dialógico. 
HEIDEGGER, Ser y Tiempo.

MAFFESOLI, A Conquista do Presente.

NIETZSCHE, Assim Falava Zaratustra.

PERLS, Fritz Gestalt Terapia.

ROGERS, Carl Tornar-se Pessoa.

                        - Psicoterapia e Relações Humanas.



[1] ROGERS, Carl Psicoterapia e Relações Humanas.



 
Talvez não passe adequadamente percebido que Carl Rogers elevou a importante instância ética, e princípio político, e metodológico, a consideração pela pessoa, qua pessoa, política, e pela pessoa em sua ontológica fenomenodialógica. Não é pouco.

Ao lado de sua insistência na ação -- no poder naturalmente criativo, superativo, e regenerativo, da ação, à qual designa como tendência atualizante --, um dos aspectos mais básicos, e brilhantes, da concepção e da metodológica relação da abordagem rogeriana é a radicalidade de seu respeito incondicional pela pessoa. E pela ontológica compreensiva, e implicativa, da relação com a pessoa. Respeito este como constituinte de uma relação que metodologicamente potencializa a persistência na vivência fenomenodialógica da ação, a atualização, no modo de sermos de sua dialógica.

A concepção da consideração positiva incondicional pela experiência da pessoa é uma instância ética crucial, importantemente política, e metodológica. Ela implica, necessariamente, o respeito incondicional pela pessoa política, o respeito pela fenomenológica da relação inter humana, que implica o respeito à pessoa como outra, o respeito à pessoa como tu.

Respeito que só se dá, evidentemente, num reconhecer, e conhecer, a pessoa particular e fenomenológico existencialmente empírica, e dialógica, em sua alteridade. O modo próprio e específico do conhecer como acontecer; empático. O conhecer fenomenodialógico, e existencial, compreensivo, e implicativo. Numa palavra, o conhecer no âmbito compreensivo da momentaneidade instantânea da relação empática.

O que quer especificamente dizer: fenomenodialógica.

Empático quer dizer: no modo páthico de sermos. No modo de sermos do ‘pathos’. E o modo de sermos do pathos, além de fenomenológico, e ontológico, é própria e especificamente dialógico.

Muito equívoco em torno do conceito do termo pathos. Equívoco que se repete quase que maquinalmente. Ou até com pretensões a novidade.

Primeiro, é preciso considerar que o sentido do termo pathos que prevalece entre nós é o sentido Latino, Romano, da palavra. Que tem a ver com paixão, na verdade o excesso de paixão, como doentio, como sofrimento, como doença.

Originariamente, não obstante, no seu sentido Grego, anterior ao Latino, Romano, a palavra pathos não tem este sentido.

Mas refere-se à estética da sensibilidade emocionada. À estética da vivência fenomenológica, que é, propriamente, fenomenodialógica. Naturalmente motiva, emotiva, emocionada, e motivativa. O termo Grego refere-se, assim, à estética natural e intrinsecamente motiva, e emotiva, da vivência da ação, da atualização.

Empatia é, assim, a estética do pathos, a estética fenomenodialógica da vivência do modo ontológico de sermos da ação. Eminentemente compreensivo, e implicativo; naturalmente motivo, e motivacional; e originária e naturalmente tingido pela emoção ontológica.

A empatia -- como ontológica do modo fenomenológico e existencial de sermos, compreensivo e implicativo -- é eminentemente dialógica. De modo que é, em essência, na duração de sua momentaneidade instantânea, a relação com uma alteridade. Com a alteridade do tu.

Seja na esfera da relação com a natureza não humana, na esfera do inter humano, seja na esfera da relação com o sagrado.

 

Eminentemente empática, a condição da consideração positiva incondicional pela experiência do outro tem, assim, um profundo arraigamento dialógico, fenomenodialógico. Inter humano. Ontológico. E implica a compreensão profunda e radical de que, ao nível da vivência ontológica, pré-reflexiva, fenomenológico existencial, e dialógica, compreensiva e implicativa, a sua experiência e experimentação se dão como a dialógica da relação com a alteridade radical de um tu.

 

Enquanto alteridade (o caráter daquilo que é outro), na momentaneidade instantânea da duração da dialógica da relação eu-tu, o tu se dá em sua autonomia radical, como possibilidade, como desdobramento autônomo de possibilidades. Que é sempre cognitivo, e implicação da dialógica da relação, na pontualidade de sua momentaneidade instantânea.

Na dialógica da relação, não podemos, e não pode o eu, determinar o tu.

O tu se dá, sempre como devir da atualização de possibilidades alteritárias, que, continuamente, se produzem, no âmbito dialógico, cognitivo, da momentaneidade instantânea do modo de sermos de uma relação muito peculiar – a relação eu-tu (Buber).

Que, em termos de vivência fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, gestaltificativa, dá-se como projetação cognoscente do desdobramento de possibilidades, como desdobramentos de forças plásticas, plastificativas.

E que não é, como modo de sermos, como vivência, da ordem do modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto. Modo de sermos da ação, modo de sermos do ator, do acontecer; diferente do modo de sermos, acontecido, do espectador – no qual se constituem sujeito e objeto, e a sua teorética dicotomização.

O acontecer da dialógica da relação eu-tu não é, portanto, e por isso, da ordem da teorética; nem da ordem do moralismo. Igualmente, não é da ordem das relações de causa e efeito; nem da ordem da utilidade; não é da ordem da técnica. Nem mesmo, como vivência, da ordem da experiência da realidade -- uma vez que a experiência da realidade é da ordem do acontecido, e a vivência do acontecer fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo, gestaltificativo, é em específico o acontecer. Da ordem da verdade, como nos mostra Heidegger, que é o acontecer; mas não da ordem da realidade, que é o acontecido.

 

A consideração positiva incondicional pela experiência do outro é condição, assim, da relação fenomenodialógica com o outro na momentaneidade instantânea de seu acontecer ontológico.

De modo que, no âmbito da momentaneidade instantânea da relação eu-tu, não posso determinar o tu. Que é um foco autônomo de produção de sentido (Husserl). Sentido dele próprio, e o próprio processo de geração e de constituição de sentido que se desdobra como a dialógica da relação.

Além do que, sobretudo, como enfatiza Buber, o tu não é objeto. Em nenhuma circunstância o tu é objeto. Nem sujeito (da mesma forma que o eu não é sujeito, mas, como o tu, projeto, projetação do desdobramento de possibilidades, projeito). Projeto, projetação que se desdobra enquanto vivência como impulsão do desdobramento de possibilidades, no âmbito da momentaneidade instantânea da dialógica da relação. O tu não é objeto de um sujeito, eminente e especificamente espectador; mas parceiro intrínseco da momentaneidade instantânea da dialógica da ação, inter ação, do ator.

Em não sendo objeto – nem o eu sujeito --, o tu, como o âmbito da própria relação eu-tu, não teorético, não é conceitual, mas intensional, pré-conceitual, compreensivo, e implicativo. Além de dialógico, naturalmente.

Estão, o tu, e a própria relação eu-tu, fora do modo teorético de sermos da moral e do moralismo. Estão fora do modo de sermos da causalidade, das relações de causa e efeito; fora do modo de sermos da técnica, da utilidade, da realidade – como características próprias do modo acontecido de sermos.

Já que o modo dialógico de sermos é da esfera do modo de sermos do acontecer. Cuja vivência caracteristicamente se dá fora do modo teorético de sermos, do modo de sermos do sujeito e do objeto, e do modo de sermos da própria dicotomia sujeito-objeto; fora da causalidade, fora do explicativo modo de sermos da ciência explicativa. Fora da utilidade; e, como acontecer, fora da experiência acontecida da realidade.

 

Mas, dentre as peculiaridades do âmbito do modo de sermos do acontecer da dialógica do eu-tu, está a de que esta esfera, ainda que autônoma e afirmativa, carece da afirmação, afirmação da afirmação, por seus partícipes.

O eu-tu, o eu, e o próprio tu, carecem e demandam afirmação recíproca, para se desdobrarem.

De modo que só existe relação na afirmação da dialógica. Só existe dialógica na afirmação do tu – do eu e do tu, da dialógica do eu-tu.

Quando há uma recusa à afirmação do tu, à afirmação da relação eu-tu, a própria relação eu-tu se desvanece, e escoa momentânea e instantaneamente no sentido do modo eu-isso sermos, objetivo, e coisificado.

De modo que podemos explicarmo-nos – des-implicarmo-nos --, com relação ao tu. Podemos extinguir a momentaneidade instantânea da perduração do evento da relação eu-tu... Mas não podemos determinar a alteridade e a geração alteritária do tu, e dos seus sentidos. Da mesma forma que não podemos fazê-lo com relação ao próprio eu, que se confronta com o tu de si mesmo... Assim como não podemos determinar a alteridade e a geração alteritária das possibilitações e dos sentidos da própria relação eu-tu.

 

Daí a ontológica instância ética, o princípio político, e o princípio metodológico fenomenodialógico da consideração positiva incondicional pela experiência do outro na relação inter humana. Como uma conditio sine qua non da dialógica.

Como afirmação da presença alteritária da pessoa do outro, e do tu, E da própria relação eu-tu, na fenomenodialógica do encontro.

 

A instância ética e o princípio, político, e igualmente metodológico, da consideração positiva incondicional têm a sua importante e fundamental implicação política.

A consideração e a aceitação, a celebração mesmo, da pessoa política, qua pessoa – que era muito comum à abordagem rogeriana -- em sua alteridade. Como pessoa, a pessoa é digna de um respeito e de uma consideração positiva e calorosa. Isto é um princípio ético e político de respeito pela pessoa como pessoa. Não envolve nenhum tipo de aceitação ou aprovação. Mas é um princípio de consideração positiva pela pessoa genérica que se particulariza e encarna na pessoa empírica.

Há confusão quando se mal entende a instância ética e o princípio político e metodológico da consideração positiva incondicional como um princípio moral. Não o é. É uma instância ética e um princípio de respeito e consideração, e mesmo de celebração, pela pessoa genérica que se particulariza na pessoa empírica.Só isso. E não é pouco. E não um pricípio moral, um tipo de aceitação moral do que quer que seja da pessoa particular.

Princípio ético, político e metodológico a consideração positiva incondicional pela experiência do outro estabelece que inclusive, e em particular, o excluído e oprimido, é sempre outro, ontologicamente outro, inteiramente outro, e inteiramente hábil, eticamente hábil, para o encontro dialógico. E que, mesmo enquanto outro com o qual não interagimos, sua pessoa enquanto pessoa genérica e particular merece um respeito, e uma celebração, incondicionais. E merece ser respeitada enquanto outro em sua alteridade, que só pode ser devidamente tratada, apreciada, descoberta, e criada, no âmbito dialógico da relação inter humana propriamente dita.

Numa república incompleta (Raimundo Faoro) como a nossa, derivada de intensos processos coloniais da história da humanidade, que resultaram e resultam na escravização e na submissão de povos, cujos descendentes se constituem como as maiorias oprimidas e excluídas de nossos cidadãos, alteritários sempre; numa república incompleta, na qual medrou e medra como erva daninha, ou como um processo degenerativo, a gênese deficitária ou a deterioração social de uma instância ética e política radical de respeito para com a pessoa, e para com a própria vida – ética e princípio político que na prática, de modo tácito, não valeriam para a maior parte da população, as classes despossuídas; em verdade não valem para ninguém; – numa república incompleta na qual, inclusive, a Psicologia e os psicólogos frequentemente assumem uma cínica e tácita negação do respeito e da própria condição humana da alteridade do oprimido e excluído, e negam ideologicamente a própria realidade social e histórica do oprimido e excluído; o princípio ético, político e metodológico da consideração positiva incondicional, e sua reiteração e afirmação, ganham uma importância ética, política, metodológica e humana fundamentais.

É com relação à pessoa genérica, com relação à pessoa política em sua alteridade; é na ontológica da relação dialógica com a pessoa ontológica, empírica, fenomenodialogicamente empírica, não teorética, nem explicativa, é na implicação que se impõe os princípios éticos, políticos e metodológicos, da consideração positiva incondicional pela experiência do outro.

Devemos a Carl Rogers a afirmação e a reiteração desta instância ética, deste princípio político, e deste princípio de método fenomenodialógico e implicativo, no âmbito tão alienado e ideologicamente comprometido e ruinado da Psicologia e da Psicoterapia.

 

 

 

 
A pessoa de Carl Rogers, de sua Abordagem Centrada na Pessoa, não tem, em momento algum, a pretensão a um caráter ontológico, ou metafísico.

Carl Rogers buscava apenas, em primeiro lugar, sair decididamente do referencial de uma relação não implicativa com a pessoa do cliente. Sair da perspectiva do referencial de uma relação explicativa, objetivista, teorética, conceitual, técnica, ou meramente comportamental, ou simplesmente alienada, com a pessoa do cliente.

E ele sabia que a relação efetiva com a pessoa situava-se, naturalmente, no plano imediato de uma relação empírica. Empírico aqui quer dizer não teórico. E, também no caso do Rogers, e da Fenomenologia, não objetivista.

Talvez precocemente advertido por Buber, não obstante, Rogers sabia que, em se tratando da pessoa, este empirismo por certo não seria o empirismo objetivista... No seu tempo, e no meio da cultura acadêmica Norte Americana -- ele não formulava assim --, a sua empatia era exatamente o empirismo dialógico, fenomenológico existencial, compreensivo e implicativo. O empirismo fenomenológico da dialógica.

Este empirismo fenomenológico da consciência já estava em germe proposto pela metodologia do Aristóteles do De Anima, quando este propõe a metodologia das Ciências Naturais para o estudo da consciência. Um empirismo especificamente da consciência. Que Brentano vai desvendar, como o empirismo fenomenológico intensional da consciência. A dimensão fenomenológico existencial, e dialógica, da consciência; e da relação dialógica, como diria Buber, da natureza não humana, do inter humano, e da relação com o sagrado.

Carl Rogers vai entender este empirismo como empatia. Como páthico. Empático.

Não, certamente, o conceito do pathos no sentido Latino, o pathos como sofrimento, como doença. Mas o pathos entendido, no seu sentido Grego original, como sensibilidade emocionada. Como a sensibilidade estética, e poiética, fenomenológico existencial.

Juntando Aristóteles, e a patéthica Grega; juntando Brentano, Buber, e Heidegger, mesmo que assim não o soubesse, em sua noção implicativa de empatia, aí está a genialidade de Carl Rogers. Porque suas concepções e metodológica, eminentemente, própria e especificamente, implicativas, fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas, emergiam no mundo da ciência e da cultura Norte Americanos, fortemente marcados por uma ontofobia, e fortemente marcados pelo objetivismo, explicativo, e por seu empirismo objetivista, por sua tecno lógica, e por seu comportamentalismo.

Em particular no objetivismo do modelo bio-médico, no objetivismo bio-médico da epistemologia psicanalítica, e no objetivismo explicativo Comportamental...

Carl Rogers pelejou com estas tendências objetivistas explicativas, ontofóbicas, técnicas, utilitaristas, pragmáticas, predominantes na cultura da ciência, da Psicologia, e da Medicina Norte Americanas; e, por que não dizê-lo, mundiais.

Pelejou, igualmente, com as tendências idealistas. Para depurar e decantar um modelo fenomenológico existencial empático, para preconizar uma relação com o cliente, com o educando, com o participante de grupo, que valorizasse, não uma perspectiva, explicativa, teorética, objetivista; moralista, causativa, técnica, pragmática; mas que fosse experimental e hermenêutica, no sentido ontológico e fenomenológico existencial. Que fosse implicativa, fenomenológico existencialmente empírica, dialógica; empática, numa palavra...

Carl Rogers queria dizer, apenas, com o seu conceito de pessoa, que na sua abordagem privilegiava a relação com a pessoa considerada na perpspectiva do empirismo de uma relação com ela, a relação com a pessoa fenomenológico existencial empírica, dialógica, compreensiva e implicativa, a pessoa na empatia da relação ontológica, dialógica, e fenomenológico existencial, compreensiva e implicativa.

Apenas isso.

Em nenhum momento Carl Rogers se propôs a fazer uma ontologia da pessoa. Mas busca em essência definir e cultivar uma relação ontológica com a pessoa empírica. Fenomenológico existencial empírica. Dialógica, compreensiva e implicativa.

E isso era monumental, no âmbito dos conflitos culturais, éticos, ontológicos e epistemológicos daquele momento e lugar precisos. Carl Rogers só precisava disso, o conceito da relação com a pessoa em sua empiria compreensiva e implicativa, dialógica, empática.

Críticas às formulações de Carl Rogers? Claro que sim. Sempre, como a todos. Desenvolvimentos de sua concepção da pessoa e da metodologia de sua relação com ela... Claro que sim!

Mas criticá-lo sob o ponto de vista de uma ontologia da pessoa não faz sentido. Carl Rogers não se preocupou em elaborar uma ontologia da pessoa. Sua concepção de pessoa é metodológica. E sua consideração pela pessoa é consideração pela pessoa ontologicamente empírica, e evidentemente empírica.

Criticá-lo por algo que ele não fez não faz sentido.

Sua preocupação era preconizar uma relação implicativa e compreensiva com a pessoa, como a sua presença e alteridade, em sua empiria fenomenológico existencial, e dialógica, compreensiva e implicativa. Para tanto, ele não precisava de uma teorética ontológica da pessoa. Seu interesse era o de privilegiar a dialógica ontológica, empática, da relação com a pessoa fenomenológico existencialmente empírica.

O plano da relação ontológica com o outro, anterior aos princípios de uma Ontologia...

Neste plano da vivência, ele certamente diria, com Pessoa: o ter consciência não me obriga a ter teorias... Só me obriga a ser consciente...

As conquistas ontológicas, epistemológicas, conceituais e metodológicas de Carl Rogers, neste sentido, são clássicas. Na história da Psicologia, e na história da cultura da civilização ocidental. O que quer dizer, foram, em sua essência, importantes quando foram concebidas, e vão ser sempre. Não considerar isso adequadamente é não contextualizá-lo, e não compreendê-lo.

Carl Rogers é, naturalmente, criticável. Como todo mundo. Claro. E ele próprio tinha aguda consciência disso. Mas ele tem outras dimensões para serem criticadas. Sua concepção operacional e metodológica da pessoa, e da relação com a pessoa, é genial. Revolucionou a Psicologia e a Psicoterapia. Revolucionou as Ciências Humanas. Revolucionou a Ciência, no sentido de uma Ontologia, de uma Epistemologia, e de uma metodológica fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas e implicativas.

Nov 2012.

 

 
As questões correlatas de ontologia, de ética, de epistemologia e de método são a questão central de concepção e método da abordagem rogeriana.

Isto porque, seguindo uma ontologia, uma ética, uma epistemologia e uma metodologia fenomenológico existenciais, a abordagem rogeriana assume uma aguda ruptura paradigmática. Com relação, em particular, à Ciência Explicativa hegemônica, com relação ao Pragmatismo, com relação ao Objetivismo, com relação ao Realismo, com relação ao princípio de realidade, e ao positivismo do real; e com relação ao Idealismo. Em decidido privilégio ético e metodológico de uma Ontologia, de uma Epistemologia e Ciência compreensivas, dialógicas, e implicativas. De uma ética do inutilmente poiético e estético. De uma metodologia, empática, radicalmente empiristas, não no sentido objetivista do empirismo objetivista, mas no sentido da radicalidade do empirismo fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo, implicativo, gestaltificativo. O modo de sermos da ação, da atualização, como o cognitivo devir do desdobramento de possibilidades.

Rogers entendeu de um modo particular, e foi parte do movimento que entendeu que a ação, a atualização, é a característica central da existência. Que a cria e recria, que a solve e resolve, em seu acontecer. E que a metodologia, a ontologia, a ética e a epistemologia da atualização são, própria e especificamente, fenomenológicas e existenciais. Dialógicas. Compreensivas, implicativas, gestaltificativas.

O que significa que uma ontologia é fenomenológico existencial?

Significa a compreensão de que, ontologicamente, no que essencialmente nos constitui como seres humanos, somos ora acontecer, ora acontecido. E que, no modo de sermos do acontecer, somos, basicamente, ação, atualização. Uma tendência atualizante, se quisermos. Mas o devir fenomenológico existencial do desdobramento cognitivo de forças, as possibilidades, que se dão compreensiva e implicativamente, gestaltificativamente, no modo de sermos da consciência pré-reflexiva, pré-teorética, e pré-comportamental.

A ação, a atualização, a tendência atualizante são eminentemente fenomenológicas.

Meio perplexo e atabalhoado, mas de modo extremamente importante, e significativo, Rogers já chamava a atenção para isso. Ou seja, a ação, a atualização, a tendência atualizante, se dão como vivência. Fenomenológico existencial.

A ação, a atualização, a tendência atualizante, não se dão representativamente, como consciência representativa. Não se dão explicativamente, como consciência explicativa, teorética. Não são conceituais, mas consciência pré-conceitual. E pré-comportamental -- não se dão comportamentalmente.

Dão-se, antes, como consciência pré-reflexiva, fenomenológico existencial e dialógica; compreensiva e implicativa, gestaltificativa.

A ação, a atualização, a tendência atualizante, dão-se como vivência imediata de forças, possibilidades, em desdobramento. Que surgem, vivencialmente, e se desdobram, cognitiva e muscularmente como devir, do íntimo do que entendemos como ser, de um modo múltiplo e multiplamente contínuo.

Em seu desdobramento, as possibilidades, necessariamente, e de um modo intrínseco, se constituem, assim, como consciência pré-reflexiva, como consciência fenomenológico existencial. De modo que, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, gestaltificativa, a ação é eminentemente cognitiva, eminentemente epistemológica, especificamente. Ainda que da epistemologia dialógica, fenomenológico existencial empírica.

Uma epistemologia de raiz fenomenológico existencial e dialógica. O que quer dizer, compreensiva e implicativa, gestaltificativa. E não explicativa. Quer seja explicativamente teorética, ou explicativamente comportamental.

O percurso vivencial, vivenciativo, do desdobramento de possibilidades transita como devir compreensivo, compreensivamente cognitivo, como ação, atualização, formação da vivência, e formativo de coisas, desde níveis pré-compreensivos, até se exaurir como coisa. E assim, múltipla e continuamente.

A ação é, assim, compreensiva e implicativa, gestaltificativa; o que quer dizer, fenomenológico existencial e dialógica. Não é explicativa, não é teorética, nem comportamental.

O ethos, a ética da ação, da atualização, da operação da tendência atualizante, é, assim, na momentaneidade instantânea de seu acontecer, vivência fenomenológico existencial, compreensiva e implicativa, gestaltificativa.

De modo que, ao privilegiar o modo de sermos da ação, da atualização, da operação da tendência atualizante, a abordagem rogeriana faz uma decidida escolha pelo ethos, pela ética fenomenomenológico existencial e dialógica, compreensiva e implicativa, gestaltificativa. Ética do pathos, da sensibilidade emocionada, empathos, empatia, pathética.

O pathos, a empatia, a vivência fenomenológico existencial, compreensiva e implicativa, gestaltificativa, é própria e especificamente, dialógica.

Ou seja, da ordem do acontecer – e não do acontecido –, a vivência empática, fenomenológica, é o modo de sermos do ator, modo de sermos da ação, do acontecer. E não o acontecido modo de sermos do sujeito e do objeto.

Eminentemente distinta, anterior, à condição acontecida do sujeito e do objeto -- e de sua explicativa dicotomização -- a vivência fenomenológica, a vivência empática, é vivência de sentido logos, onto logos, fenomeno logos, dia logos.

Especificamente dialógica, a vivência fenomenológico existencial, a vivência empática, compreensiva, implicativa, gestaltificativa, é uma vivência de compartilhamento (dia) do sentido (logos). É uma vivência dialógica.

Compartilhamento do sentido, dia logos, vivência empática, que pode se dar, segundo a antropologia buberiana, na esfera da relação com a natureza não humana, na esfera do humano, do inter humano; e na esfera da relação com o sagrado.

O caráter empático da abordagem rogeriana significa que ela adota a ética e a metodologia do pathos, da vivência fenomenativa. Adotando como metodologia, como epistemologia, como ontologia a fenomenológica da ação, da atualização, da tendência atualizante. Ontologia, ética, epistemologia e metodologia, fenomenológico existenciais e dialógicas, compreensivas e implicativas, gestaltificativas. Que permitem, e potencializam a ação, a atualização, a operação da tendência atualizante.

Rogers se caracterizou por uma clara e decidida compreensão da importância do poder existencial da ação, do poder fenomenológico existencial da atualização, da tendência atualizante. Compreendeu que a ação é a própria existência, o próprio acontecer da existência. Que, múltipla e continuamente, supera o acontecido da existência, criando-o e recriando-o continuamente, em sua poiese. Criando-nos é recriando a nós próprios, e ao mundo que solidariamente nos diz respeito.

 

Gestaltificação e perfeição são intimamente relacionadas. São aspectos do mesmo processamento da ação – que é, própria e especificamente, fenomenológica existencial, e dialógica, compreensiva e implicativa.

A gestaltificação é a vivência de um processo de otimização. Na medida em que as dominâncias de forças, de possibilidades, que configuram os seus processos de formação de figura e fundo constituem-se em processos de competições plásticas, e de argumentações lógicas – ontológicas, fenomenológicas, dialógicas – já que, em seus desdobramentos as possibilidades são constituídas como forças plásticas, e como sentido.

GESTALTIFICAÇÃO. A gestaltificação é a intrínseca formatividade compreensiva da ação. Como processos vivenciais de formação de figura e fundo, e de criação formativa das coisas. A partir da vivência da atualização de possibilidades.

Vivencialmente, as possibilidades emergem e se desdobram de um modo contínuo e múltiplo. E se constituem cognitivamente.

Em seus desdobramentos formativos múltiplos, as possibilidades se organizam fenomenológico existencialmente, através da sucessiva configuração, da figuração cognitiva, fenomenológico existencial, das dominâncias resultantes da competição, e argumentação, entre suas forças cognitivas e plásticas. A figuração compreensiva das dominâncias das possibilidades dá-se como processos de formação de totalidades significativas, como processos de formação de figura e fundo, como processos de formação de gestalts.

A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, É UMA FEIÇÃO, UM FAZER. PERFAZER. PERFEIÇÃO. Enquanto vivência da emergência de forças plásticas, plastificativas -- sempre inéditas, e que se constituem cognitivamente, como compreensão --, o desdobramento das possibilidades, o processo fenomenológico existencial da ação, é, própria e especificamente, o processamento de um fazer.

E é este processo de fazer que querem dizer a palavra e o conceito de feição.

Inicialmente, assim, feição é um fazer. E perfeição é um modo particular de fazer. No caso específico, o modo fenomenológico existencial de fazer, através da vivência do desdobramento da ação -- através do desdobramento cognitivo de possibilidades. Que se constitui como a criatividade da vivência dos processos de formação de figura e fundo, e da vivência da formação das coisas.

 

Naturalmente, estamos aqui radicalmente distantes de uma concepção metafísica de perfeição. Ou da perfeição como resultante de uma comparação e avaliação do feito com um modelo ideal.

A perfeição, como modo fenomenológico existencial de fazer da ação, é inteiramente física. É vivência performativa do processamento fenomenológico existencial da ação. E, pour cause, é viência da criatividade dos processos de formação de figura  e fundo, e da criação das coisas, na multiplicidade de suas formas, formações.

O modo teorético de sermos não é um fazer. O modo teorético de sermos é uma reflexão sobre o feito.

O modo comportamental de sermos não é um fazer. Mas a padronização e a repetição do feito.

Somente a ação é um fazer.

Somente a ação é uma feição, um fazer.

Aliás, perfeição. Perfazer performativo.

A ação é um fazer pelo seu intrínseco caráter formativo. Performativo, performático, performance. Pelo seu caráter de modo de sermos da emergência e do desdobramento compreensivo, implicativo, gestaltificativo, de possibilidades. E como modo de sermos dos processos de gestaltificação, de formação de figura e fundo; e de criação das coisas.

A vivência da ação é um fazer pela vivência paulatina de seu processamento fenomenológico existencial. Compreensiva e implicativa, gestaltificativa. Na momenentaneidade instantânea de seu acontecer -- este é o sentido de per.

O processo de um fazer inteiramente não abstrato. O processamento de um fazer vivenciativo, experimentado como performance. Como vivência da emergência e desdobramento compreensivo de possibilidades, no per curso de um processo de formação de figura e fundo. Que cabalmente se desdobra, com princípio, meio e fim, fechamento. Desde suas emergências pré-compreensivas, passando pela configuração, como processo compreensivo de formação de figura e fundo; e escoando na constituição da coisa, como instalação.

Em todos os seus momentos, percursos de fluxos vivenciais de corpo e de sentidos, vivência fenomenológica existencial e dialógica. Vivência de todas as suas etapas, como processo de figuração, como processo estético, poiético, performático, performativo, de formação de figura e fundo. E como processo poiético e estético, performático, de formação, de criação, de coisas. Coisas mentais, ou coisas físicas. Que se instalam como tais.

A vivência do processamento da ação é, própria e especificamente, assim, a experiência estética, a experiência poiética, performática, de um fazer. Perfazer, perfeição. Na medida em que é a vivência da emergência e do desdobramento de possibilidades; que se enformam gestaltificativamente, como processos de formação de figura e fundo; e como processos criativos de criação de coisas. A partir da atualização, do desdobramento compreensivo da força de possibilidades, sempre emergentes, múltiplas, e sempre inéditas.

A ação -- meramente cognitiva, e/ou cognitiva e muscular --; a experiência estética, a experiência poiética, assim, são, especificamente, um fazer, um fazimento, uma feição. Perfeição. Um paulatino fazer fenomenológico existencial e dialógico. Que é, como tal, um fazer experimental, que envolve a vivência de todas as etapas da gestaltificação, enquanto processo improvisastivo de formação de figura e fundo; e enquanto processo de formação de coisas, que se instalam enquanto tais.

A ação, experiência estética e poética, é a vivência do percurso de um fazer fenomenológico, gestaltificativo. A vivência do percurso de um fazimento, a vivência do percurso, do percorrimento de uma feição, que envolve o desdobramento cabal de possibilidades.

Que se desenrola, e acontece, como desdobramento cognitivo de possibilidades. Cabalmente, desde os seus níveis pré-compreensivos, passando, temporal e ritimicamente, pelo seu processo de formação de figura e fundo; até decair em sua instalação como coisa.

A vivência cabal do percurso desta feição é, própria e especificamente, o modo de sermos, o modo de fazermos, da perfeição.

O modo de sermos, desproposital, o modo de fazermos, da perfeição. É o modo se sermos, e de fazermos, da gestaltificação.

De modo que o modo de sermos, e de fazermos, da perfeição fundamenta-se na dinâmica do modo fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo, gestaltificativo, estético e poiético de sermos. Modo de sermos das emergências e desdobramentos cognitivos, gestaltificativos, de possibilidades. Sempre múltiplas e inéditas.

No ineditismo emergente e múltiplo de seus desdobramentos, as possibilidades se configuram de modo gestaltificativamente compreensivo. E, gestaltificativamente dão origem e constituem as coisas da coisidade instalativa do mundo. Ou seja, nos seus desdobramentos, as possibilidades tendem a se configurar cabalmente como as totalizações significativas dos processos de formação de figura e fundo, e como totalizações que se constituem como as coisas instalativas.

A AÇÃO, GESTALTIFICAÇÃO, PERFEIÇÃO, É UM PROCESSO DE OTIMIZAÇÃO DE FORMAÇÕES. Nas emergências e desdobramentos de suas multiplicidades, as possibilidades, se organizam a partir de processos de competição e de argumentação lógica -- fenomenológica, ontológica, dialógica. Este processo vivencial de competição e de argumentação compreensivas constitui dominâncias.

São essas dominâncias que figuram nos processos compreensivos e implicativos de formação de figura e fundo.

De modo que, como expressão cognitiva dos processos de competição e de argumentação que resultam nestas dominâncias, o processo vivencial de figuração gestaltificativa é especificamente um processo de otimização. Própria e especificamente, a partir desta competitividade e argumentação características das multiplicidades de possibilidades em desdobramento cognitivo, como processos de formação de figura e fundo, e como processo de formação de coisas instalativas.

O perfazer, a perfeição, a gestaltificação, constituem, assim, um processo de otimização. A partir da atualização da perene originalidade da forma das possibilidades emergentes, e a partir da intrínseca competitividade e argumentatividade das forças plásticas; plastificativas, que elas constituem. Como processos fenomenológicos de formação de figura e fundo. Que, igualmente, se constituem como processos de formação de coisas.

A OTIMIZAÇÃO DA GESTALTIFICAÇÃO DECORRE DA VIVÊNCIA INTENSIVA DA INTENSIONALIDADE DA AÇÃO. Radicalmente distinto do metafísico e do teorético, o perfeito é, assim, o feito desta forma.

Ou seja, o perfeito é o feito através do modo fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo, gestaltificativo, de fazermos. Processo de formação de figura e fundo, e de coisas, da ação, processo gestaltificativo da perfeição.

E, se é belo e bem feito, original, perfeito, o é pela vivência plena e intensa -- intensivativa, intensidade, intensionalidade --, das características da momentaneidade instantânea deste modo fenomenológico existencial de sermos da ação. Da atualização de possibilidades. Da perfeição.

A vivência intensa da momentaneidade instantânea da ação. A vivência intensa da momentaneidade instantânea do modo de sermos do ator, inspectador.

Modo de sermos da ação, e do ator, inspectador, que não é o modo de sermos no qual se constitui o sujeito e o objeto, e a dicotomia entre eles. Modo de sermos da ação e do ator, inspectador, que não é o modo teorético explicativo de sermos do espectador. Que não é o modo de sermos da causalidade. Nem o modo pragmático de sermos dos úteis, dos usos e das utilidades. Nem é o modo de sermos da realidade. Que não é o modo de sermos do acontecido. Mas o modo de sermos do acontecer.

Ou seja, a perfeição gestaltificativa do perfeito – do feito ao modo fenomenológico existencial de sermos da perfeição, da açãodecorre da entrega ativa, intensivativa, à momentaneidade instantânea do processo de formação de figura e fundo que caracteriza o desdobramento de possibilidades do modo ontológico, fenomenológico existencial e dialógico, de sermos da ação; compreensivo e implicativo, gestaltificativo. Modo de sermos da ação e do ator.

Que não é o modo de sermos no qual vigoram o sujeito e o objeto, e a dicotomização entre eles, característicos do modo acontecido de sermos.

O modo de sermos da ação, da perfeição, não é o modo explicativo e teorético de sermos, do sujeito que contempla um objeto. Não é o modo de sermos do sujeito, mas o modo de sermos do ator. Não é o modo de sermos do espectador, mas o modo de sermos do ator, inspectador. Não é o modo de sermos da causalidade, das relações de causa e efeito.

É o modo de sermos da ação estética e poiética. Inútil e desproposital. Não é o modo de sermos da realidade, uma vez que é o modo de sermos da possibilidade, o modo de sermos do desdobramento do possível. O modo de sermos da ação. Que não é, por isto, o modo de sermos do acontecido, mas é, própria e especificamente, o modo de sermos do acontecer.

Perfeccionativo.

 
O termo e o conceito de implicação são extremamente importantes para a definição e caracterização da perspectiva fenomenológica. Quando menos, porque o conceito de im-plicação caracteriza o fenomenológico, em contraposição ao termo e ao conceito de ex-plicação. 

Simplesmente, a ex-plicação é o modo de sermos que não é a im-plicação. O modo de sermos que não é a vivência de consciência fenomenológica, pré-reflexiva. Ou seja, explicação é o modo teorético de sermos, e o modo comportamental de sermos. Que não são implicação, não são implexação.  E, fora do modo de sermos da implicação, são portanto o modo de sermos da explicação.

Uma característica fundamental da vivência fenomenológica, pré-reflexiva, do modo ontológico de sermos, é a sua inesgotável multiplicidade. Multiplicidade que, vivencialmente, apresenta-se artisticamente, de um modo significativo, como um processo fluente de formação e de contínua sucessão de totalidades significativas, de gestalts, enquanto um rico processo de formação de figura e fundo, um processo de gestaltificação. De implicação. 

Donde podemos entender que gestaltificação e implicação são exatamente sinônimos. Ou referem-se à mesma vivência do processo de formação de figura e fundo, de totalidades significativas, da vivência de consciência,  fenomenológico existencial e dialógica.

Um aspecto fundamental da implicação, da gestaltificação, da compreensão, é o de que a vivência fenomenológica na qual elas se constituem se dá como ato, como ação; ou seja, se dá como vivência de de uma multiplicidade de possibilidades, o que quer dizer -- já que as possibilidades, como forças, só existem em seus desdobramentos -- como vivência do desdobramento de uma multiplicidade de possibilidades, em padrões de articulação das multiplicidades em processos de formação de figuras e fundos, padrões de articulação de gestalts. Que, nos seus desdobramentos, são o acontecer. Que dura até a gradativa extinção da força da articulação de possibilidades. Quando então elas se coisificam. Constituindo, enquanto coisificadas, as condição do sujeito e do objeto. De um sujeito que contempla um objeto. Contemplação que caracteriza o teorético modo de sermos da explicação. E a condição do ente, enquanto condição da coisidade, que é a  condição da possibilidade exaurida.

Não obstante, a duração da vivência do ato, a duração da vivência da ação, enquanto desdobramentos de possibilidades, a duração da vivência do processo de formação de figura e fundo, não é da ordem do acontecido, é acontecer, e não é da ordem da coisidade. De modo que, em sendo dialógica eu-tu, não é da ordem da dicotomia sujeito-objeto. A vivência da implicação, a gestaltificação, é acontecer, e não é da ordem da dicotomia sujeito-objeto, não é da ordem da objetividade, nem da subjetividade, mas da ordem da dialógica eu-tu, da ordem da condição -- não do sujeito -- mas da condição da ação, da condição do ator. Inspectador, e não espectador. Não teorético, mas fenomenológico existencial e dialógico; compreensivo, implicativo, inspectativo, gestáltico. Não é da condição do ente, mas, acontecer, da ordem do pré-ente, do presente.

Um aspecto fundamental da gestaltificação, da implicação, da compreensão, da inspectação, da vivência fenomenológico existencial, pré-reflexiva, é que, caracteristicamente, elas são sempre a vivência de uma multiplicidade de possibilidades. Que, em sua contínua geração , se constitui como um processo de consciência fenomenológica, pré-reflexiva. No qual a multiplicidade de possibilidades se articula, e se dissolve, perenemente, num processo de figuração, num processo de formação de figura e fundo, à medida em que se constituei como consciência pré-reflexiva..  Essas totalidades significativas, que são as gestalts, são plexos, enquanto totalidades -- de multiplicidades -- organizadas. A raiz Grega para o termo, e conceito, de plexo é plic. Daí o termo e o conceito de implicação, significando a vivência fenomenológica do processo de formação de gestalts. De figuração, de formação de figura e fundo. A partir das articulações de multiplicidades de possibilidades.

A compreensão tem em essência o mesmo sentido que implicação, e que gestaltificação. Referindo-se, especificamente, ao processo organizado, enquanto totalidades organizadas significativas, de consciência pré-reflexiva, de figuração, de formação de figura e fundo, de formação de gestalts, a partir da vivência do desdobramento de um plexo, de uma multiplicidade organizada, de possibilidades. 

Pense em como um grampo, através de sua preensão, organiza e enfeita, embeleza, inclusive, uma mecha de cabelos. Este é o efeito gestáltico, implicativo, preensivo, com-preensão, com-preensivo, na organização sucessiva dos plexos, das multiplicidades de possibilidades, no processo implicativo de formação de figura e fundo, de figuração, de formação de gestalts, de gestaltificação.
 


 

 
A característica de que, fenomenológico existencial dialógica, a metodológica das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais dialógicas, a Gestalt e a Abordagem Rogeriana, não é, naturalmente, teorética -- já que privilegia o modo de sermos da consciência pré-reflexiva, compreensiva e implicativa, o modo de sermos da consciência do ator; e não o modo teorético e explicativo de sermos da consciência do espectador -- pode levar, e facilmente leva, à errônea  conclusão de que, não teorética, a metodologia destas abordagens seria prática.
 
Nada mais errôneo. Porque, eminentemente, própria e especificamente, não teorética; da mesmíssima forma, a metodológica fenomenológico existencial dialógica da Gestalt e da Abordagem Rogeriana não é prática. Pragmático, pragmético, o prático se orienta pela utilidade, pela funcionalidade e pela adaptação. O modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, cujo privilegiamento caracteriza radicalmente a metodologia dessas abordagens, não é da ordem do modo de sermos, explicativo e acontecido, dos úteis e das utilidades. Da mesma forma que não é funcional, é desfuncional. E a sua implicação não é a adaptação e a conservação, mas a superação.

O teórico e o prático se constituem como modos de conhecimento. Mas, nem o teórico, nem o prático é o modo ontológico de conhecer; nem o teórico nem o prático é o modo fenomenológico existencial dialógico, compreensivo e implicativo de conhecer; de ciência implicativa, de consciência pré reflexiva, fenomenológica.

Uma característica primariamente distintiva é a de que tanto o modo teorético, como o modo prático de sermos, tanto o modo teorético como o modo prático de conhecermos fundam-se na coisidade instalativa do acontecido. 

Enquanto que o modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, funda-se no devir constitutivo da consciência compreensiva e implicativa do acontecer.

Mais que isto, a consciência compreensiva e implicativa do acontecer se constitui como acontecer na medida em que se constitui como consciência pré-reflexiva da ação, consciência pré-flexiva, fenomenológica, do desdobramento de possibilidades. 

Dimensão cognitiva, consciência pré-reflexiva, fenomenológica, da ação; do desdobramento de possibilidades, consciência do ator; a consciência compreensiva e implicativa do acontecer, da ação, é consciência e ação produtivas, é atualização de possibilidades, é o vir a ser do possível. Sendo, assim, própria e especificamente, poiéticas.

Este seu aspecto marca uma distinção fundamental da consciência ontológica com relação à consciência teorética e com relação à consciência prática. Explicativas, estas se fundam, como dissemos, no acontecido; no acontecido da condição instalativa da coisidade. De modo que elas não são consciência produtiva, não são consciência e ação criativas, em específico, não são consciência e ação poiéticas.

O poiético é a ética do possível, a ética da ação, da atualização compreensiva de possibilidades. A ética da vivência de possibilidades e do desdobramento de possibilidades, no modo de sermos fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo da ação.

Como a experiência do modo teorético e do modo prático de sermos não é o modo de sermos da vivência de possibilidades e do desdobramento de possibilidades, o modo teorético e o modo prático de sermos e suas respectivas consciências não modos e consciência poiéticos de sermos...

Fundada no modo de sermos do acontecido, a consciência prática invoca e se fundamenta na utilidade.

Ora, um dos aspectos mais característicos do modo de sermos e da consciência ontológicos, fenomenológico existenciais dialógicos, compreensivos e implicativos, é a sua impertinência ao modo de sermos dos úteis e das utilidades. Da mesma forma que não são da ordem do modo de sermos da dicotomia sujeito objeto, do modo de sermos da relação de causa e efeito, e da ordem do modo de sermos do real e da realidade.

O modo de sermos ontológico é desproposital, disfuncional, e da ordem da inutilidade.
 

A utilidade, a funcionalidade, e a propositalidade -- impertinentes ao modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo -- são inerentes ao modo prático de sermos e à consciência prática.
De modo que, na mesma medida que o modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, não é da ordem da teorética, não é teórico, ele não é também da ordem da prática, ou de qualquer pragmática. A não ser que estejamos falando de uma pragmática do inútil. 

Por outro lado, a prática se orienta para a funcionalidade e para a adaptação, para a conservação. O modo ontológico de sermos é, própria e especificamente, disfuncional. Na medida em que, acontecer, reorganiza todo o acontecido. E, se insurgindo contra o estabelecido, instala um novo status quo sempre, não funcionalizando, nem adaptando. Não funcionalizando nem adaptando ao acontecido. 

A movimentação de sua vivência se dá, sempre, não no sentido da adaptação, mas no sentido da superação. E é a isto que se remete a frase de Nietzsche, através do Zaratustra, quando observa: e eis o que segredou-me a existência: eu sou aquilo que se auto supera indefinidamente... 
 
Assim, é importante e interessante considerarmos  o caráter especificamente poiético do modo ontológico, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo de sermos, e da metodologia das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais e dialógicas -- a Gestalt e a Abordagem Rogeriana. Especificamente não teoréticas, nem práticas. Poiéticas.

 
 
Uma particularidade de uma abordagem fenomenológico existencial e dialógica é a de que, em essência, a vivencia de sua metodológica não é teorética. Não é explicativa. Mas fenomenológico existencial dialógica, compreensiva, e implicativa. 

Isto significa que a vivência metodológica de uma tal abordagem dá-se no modo Implicativo de sermos, que é consciência pré-reflexiva, que é compreensivo, gestáltico, ontológico, fenomenológico, existencial, dialógico. Modo de sermos no qual somos, estamos, devimos, agimos, existimos, anteriormente ao modo de sermos, explicativo. No qual passa a vigorar a dicotomia sujeito-objeto. 

No modo ontológico de sermos, intensionalmente, vigora a tensão da dialógica eu-tu. E não a dicotomização sujeito-objeto. Vivemos, neste modo de sermos, uma consciência pré-reflexiva, compreensiva, implicativa, gestáltica, dialógica, intensional. Que, consciência dialógica do ator, não comporta a cisão sujeito objeto. Cisão esta que possibilita, explicativamente, o sujeito teorético cognoscente. Que, explicativamente, contempla, repete, o objeto conceitual de um conhecimento acontecido. O modo ontológico não é, assim,  nem o modo de sermos do Sub-jeto, nem o modo de sermos do Ob-jeto; porque, como diria Heidegger, é o modo de sermos do próprio Jeto, do estado de Jeto. Pro-jeto, existencialmente mobilizado, tensionalmente, intensionalmente; pressivamente, expressivamente; pela  força da vivência do possível, pela vivência da força da possibilidade.

Desde sua compreensão de Dilthey que Rogers e Perls apreenderam o caráter não teorético, não explicativo, e, portanto, não moralista de sua abordagens. Mas era um momento muito confuso. E marcado por ambientes pesadamente teoréticos, ou objetivistas; cientificistas, científicos, ou nem tanto...

Uma das grandes dificuldades, um dos grandes desafios, uma das grandes tarefas, era fazer o trabalho que Kurt Goldstein não fez. 

Kurt Goldstein foi monumental em termos qualitativos. Sobretudo quando, influenciado pela nascente Psicologia da Gestalt, da qual, junto com Max Wertheimer, era um pioneiro, concebeu uma Neurologia e uma concepção do ser humano que não eram atomistas. Que não se fundavam no arco reflexo. Mas que fundavam-se, gestalticamente, numa integridade sistêmica dinâmica do organismo humano, incluindo a sua consciência organísmica e sua ambiência. 

As implicações das descobertas e das invenções conceituais e metodológicas de Kurt Goldstein ainda hoje não tiveram plenas consequências. Porque estas consequências, e suas sucessões, demandam uma ciência compreensiva, implicativa; de ontologia e epistemologia fenomenológico existenciais e dialógicas...

Apesar de tudo, apesar de sua monumental contribuição, não foi do momento teórico e epistemológico de Kurt Goldstein adentrar a Fenomenologia, adentrar e assumir as consequências e as implicações ontológicas, epistemológicas, metodológicas, e teóricas, do modo ontológico e intensional de sermos. Do modo de sermos que não é da ordem da dicotomia sujeito-objeto. Não foi da episteme (Foucault) do tempo de Kurt Goldstein adentrar, e assumir, as implicações e as consequências do modo de sermos que é da ordem da intensionalidade, da presença, e da atualidade; e não é o modo de sermos da objetividade, e da subjetividade; da teorética, da explicação.

Kurt Goldstein não adentrou, assim, a ontológica e a epistemológica implicativas da fenomenológica, da dialógica, da gestáltica. Não adentrou a ontológica e a epistemológica da Fenomenologia e da intensionalidade.

Isto chega a ser curioso. Porque, qualitativamente, ele chegou muito perto. E de um modo muito genuíno. Mas não adentrou.

Aí se situam importantes questões do momento teórico e epistemológico de Rogers, de Perls, e de suas abordagens. 

Eles foram profunda e essencialmente influenciados pela originalidade, pela criatividade, e pela genialidade de Kurt Goldstein. Mas  também o foram, da mesma forma, influenciados pelos limites dele. Do mesmo modo que, na prática, digamos, eles tenham desenvolvido abordagens fenomenológico existenciais de ponta -- Perls, e depois Rogers, também profundamente influenciado neste sentido pelo Teatro Expressionista --, a nível teórico e conceitual, epistemológico e ontológico, eles não conseguiram se livrar de todo da influência do objetivismo, e do subjetivismo, da ciência explicativa. Conceitualmente eles não chegaram a estar a altura das implicações e consequências de suas práticas -- das consequências e implicações de uma ontologia e de uma epistemologia fenomenológicas e implicativas. Num certo sentido, eles não conseguiram superar a Kurt Goldstein.

Mas estavam, sincera e criativamente a caminho. No conteúdo de suas teorias eles não superaram o modo teórico, explicativo, de sermos, o modo de sermos pautado pela dicotomia sujeito-objeto. Mas estavam celeremente a caminho, trabalhando uma metodologia compatível com uma ontologia e com uma metodologia implicativa. 

Em essência, entenderam que suas abordagens eram implicativas, e não teoréticas, e explicativas. E trataram de se pôr a caminho, no sentido do desenvolvimento de metodologias compatíveis. Tanto é que suas metodologias, ainda pouco explicitadas teoricamente, fragmentárias e incompletas, é que são o ponto alto de suas contribuições. 

Quando nos dispomos a compreender, a apreciar, e a avaliar as contribuições de Perls e de Rogers, não devemos olhar no sentido de suas teorias -- estas mais precárias ainda do que seus precários esboços metodológicos. Devemos olhar no sentido de suas metodologias. No sentido de suas experimentações metodológicas, e dos resultados destas. Ainda que precárias, frequentemente, em suas explicitações, são contribuições geniais. 

O desenvolvimento das metodologias de Perls e de Rogers significou, significava, e significa, um rejeição -- como princípio e como metodologia -- do objetivismo, da teorética, da explicação. Uma rejeição da objetividade, da subjetividade, da ciência que tem objeto, e do cientificismo dominantes. E o ousado e corajoso desenvolvimento de um verdadeiro streaptease de elementos objetivistas, teoréticos, e moralistas, explicativos, no desenvolvimento experimental de suas respectivas metodologias. Podemos dizer que suas mortes os alcançaram em plena efervescência do desdobramento desses processos. E eles foram muito longe neste sentido. Mais longe, e de modo qualitativamente mais produtivo do que qualquer outro autor foi em Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial.

Mas, herdeiros genuínos, ainda que criativamente produtivos, de Kurt Goldstein -- para bem e para mal --, herdaram em sua produção teórica alguns dos limites capitais dele. 

Como a não superação, em suas concepções, da dicotomia sujeito-objeto; a não superação da objetividade, e da subjetividade; a não superação do modo não implicativo de sermos; a não superação, em suas concepções, do modo explicativo de sermos. 

É curioso observarmos que isto é especificamente uma questão de suas concepções. Ao nível de suas metodologias eles estavam muito mais avançados, na integração da perspectiva de uma ontologia e de uma epistemologia ontológicas, fenomenológico existenciais e dialógicas; compreensivas, e implicativas.

A nível própria e especificamente conceitual, não obstante, pouco podemos escapar da constatação de que suas produções teóricas são uma miséria. Isto não envolve o valor ensaístico dos ensaios de Carl Rogers. E algumas sacações geniais de Fritz Perls -- e tantos "chutes". Falamos a nível teórico propriamente dito.

Em termos conceituais, assim como Goldstein, nem Rogers nem Perls entenderam o sentido existencial, ontológico e dialógico, fenomenológico existencial, compreensivo e implicativo, da ação, da atualização, da atualidade e da presença

Rogers adotou a idéia genial, mas ainda confusa, de tendência atualizante de Kurt Goldstein. Tentou ainda ir além. Mas carente de uma epistemologia e de uma ontologia fenomenológico existenciais implicativas, começou a produzir uma mixórdia de opiniões ingênuas sobre a natureza humana. Perdendo-se definitivamente, em termos conceituais, na criação de uma idéia de uma tendência formativa do universo. Nesta, Rogers adotava elementos das concepções do físico químico austríaco Ilya Prigogine, ganhador do prêmio Nobel. Muito ao espírito, um tanto quanto tardiamente, naquela época, da Era de Aquarius e da New Age. 

Enquanto concepções do trabalho psicológico e psicoterápico, a serventia das concepções evapora... Não sem dar margem a uma série de interpretações esdrúxulas e não raro delirantes de seus seguidores...

A serventia das concepções evapora  na medida, em particular, em que a Psicologia e a Psicoterapia trabalham com dimensões eminentemente existenciais. Os conceitos a elas concernentes carecem de uma base eminentemente ontológica, fenomenológico existencial, e dialógica. Rogers descamba, desautorizado, para o âmbito da físico química, da teoria da evolução, e da metafísica. Felizmente, para todos nós, ele não era assim lunático nos desenvolvimentos de sua metodologia. Nos quais ele foi efetivamente brilhante. Inclusive, e em particular, no que concerne ao trabalho com grupos.

A ação, a atualização, a atualidade, a tendência atualizante, em Psicologia e Psicoterapia carecem de ser vistas e contextualizadas na perspectiva de uma ontologia, e de uma epistemologia, fenomenológico existenciais e dialógicas, implicativas e compreensivas. Tanto em termos individuais, como em termos dos trabalhos com grupos.

Um aspecto no qual a carência de uma perspectiva fenomenológico existencial e dialógica de ontologia e epistemologia é altamente limitante nas concepções de Carl Rogers é no que concerne a suas concepções de empatia, de compreensão e de compreensão empática...  São ética, e enquanto modos de sermos, eminentemente fenomenológico existenciais e dialógicos. Sem este contexto, são concepções que facilmente perdem o seu sentido, e passam a ser utilizados de um modo objetivista, explicativo, e, não raro, manipulativamente.

Como Rogers, Perls tinha uma metodologia fenomenológico existencial e dialógica muito refinada. Herança, em grande parte de sua longa experiência, desde a juventude, com o Teatro Expressionista... 

Podemos dizer que a Gestal'terapia de Perls é Expressionismo em terapia. 

Perls tem este mérito fantástico, o de ter criado , dentre as várias artes de desenvolvimento da arte expressionista,  uma Psicologia e uma Psicoterapia expressionista. 

Foi aí, no Teatro Expressionista, que Perls se desenvolveu numa metodologia fenomenológico existencial e dialógica de ponta. E ele sabia, apesar de seu background de médico, e de Psicanalista, que aí estavam as possibilidades de uma grande abordagem de psicologia e de psicoterapia. 

Mas Perls não estudou Fenomenologia teórica. Mesmo de Psicologia da Gestalt ele entendia pouco -- Laura é quem entendia. Sua fidedignidade a um metodologia fenomenológico existencial dialógica avançada, entretanto, devia-se à sua experiência com o Teatro Expressionista.

Daí que a metodologia de Perls é muito refinada. Mas quando se trata de teoria...

A teorização da Gesta'terapia de Perls é fragmentária, confusa, frequentemente inconsistente.

Seus conceitos basilares, o conceito de 'Contato', e de 'Fronteira de Contato', é pouco e pobremente explicitado. E, quando o é, é de um modo precário e confuso. Às vezes de um modo surpreendentemente pobre e confuso... Isto porque ele não soube e ir ao fundo radical, necessário, de uma fundamentação fenomenológico existencial e dialógica. Ficou no meio do caminho entre as suas refinadas intuições fenomenológico existenciais ontológicas, e o objetivismo explicativo da ciência e de seu background de médico. No que não foi ajudado pelas limitações ontológica e epistemológicas de seu grande mestre e companheiro, Kurt Goldstein. 

Na verdade, a metodológica gestáltica implicativa, da qual Fritz foi um mestre intuitivo, pressupõe o privilegiamento do modo de sermos ontológico, fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo e implicativo -- e, assim, gestáltico. A ótica compreensiva e implicativa deste modo de sermos não é a ótica da subjetividade, ou da objetividade -- da dicotomia sujeito-objeto --, mas a ótica do ator. Que se dá neste modo de sermos dialógico da ação. E que, modo intensional de sermos do ator, e do intérprete fenomenológico existencial compreensivo e implicativo, não é o modo de sermos da subjetividade, ou da objetividade; não é o modo de sermos da dicotomização sujeito-objeto. 

Na maioria absoluta das vezes, o conceito de contato, e de fronteira de contato, é colocado numa perspectiva objetivista. E, não por acaso, numa perspectiva que lembra a teoria da membrana celular.

Colocado na ótica de uma ontologia, e de uma epistemologia, fenomenológico existenciais dialógicas, compreensivas e implicativas, vê-se facilmente que o conceito de contato é o conceito do modo ontológico de sermos da ação. Sempre que nos referirmos a contato, devemos nos remeter antes à ação

Ação que é intensional. E que, fenomenológico existencialmente, compreensiva e implicativamente, tem como característica a de se constituir cognitivamente -- durante todo o processo do desdobramento de sua instantaneidade momentânea --, como consciência pré-reflexiva, como compreensão, como implicação, consciência implicativa, como dia-logos, como fenômeno, como fenomeno-logos. 

De modo que, toda teoria, toda ontologia, toda a  epistemologia da vivência do contato precisa se voltar para a ontologia, para epistemologia, e teoria, da ação. O contato é a ação contactante. E se dá como um processo fenomenológico existencial de atualização de possibilidades, que é implicativo, gestáltico. Um processo de formação de figura e fundo. Formação que é per-formação, que é per-formance.

Dadas essas correções de ótica ontológicas e epistemológicas, fenomenológico existenciais, compreensivas, e implicativas, gestálticas,  podemos produzir na (digamos) prática -- porque não são práticas, na vivência -- as teorizações das psicologias e psicoterapia fenomenológico existenciais -- da Gestal'terapia e da Abordagem Rogeriana. 

Porque, ao longo de sua vivência metodológica -- a teorização é fundamental para estas abordagens. como para quaisquer outras. O aspecto de que elas sejam metodologicamente dedicadas à implicação, não exime os seus praticante da explicitação teórica, e de fundamentação, ao nível da explicação. O fato de que as abordagens não sejam teorizantes ao nível da vivência de sua metodologia em momento algum quer dizer que elas não tenham, e não careçam de teoria. 

Elas são abordagens empiristas. 

No sentido de que, fenomenológicas e implicativas, elas não são abordagens teoréticas e explicativas. 

Não obstante, em momento algum isto quer dizer que elas sejam abordagens que não têm teoria, que elas sejam abordagens que não têm um processo de produção teórica; ou que elas sejam abordagens que tenham um preconceito contra a teoria. E que não possam, e devam ser avaliadas em termos de suas metodologias e produções teóricas... Nada disso. 

O preconceito contra a teoria é próprio de outro tipo de empirismo. O empirismo objetivista. Que, não intensional, nem  implicativo; explicativo, se situa firmemente no privilégio do modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto. 

E, não só se situa neste modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto, mas privilegia o pólo objeto desta dicotomia. Sob o pressuposto de que é este o modo humano de conhecermos.

Para este empirismo objetivista, a teoria e a teorização não só são impróprias, como são um erro metodológico. Daí que ele se nutre de forte preconceito anti teórico.

Não podemos nos livrar da teoria e da teorização. Nem interessaria. Elas são decorrências naturais da vivência da instantaneidade momentânea do modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, da vivência hermenêutica da ação, da atualização. Nelas como que repousamos, ou nos potencializamos, para ao modo ontológico de sermos, e à sua criatividade, para retornarmos sucessivamente. Se dizemos, por exemplo: uma abordagem fenomenológico existencial não tem teoria! Isto já seria uma afirmação teórica. A teoria é, portanto, inevitável, interessante. Na verdade, fundamental. Nela fixamos o conhecimento, inclusive para as gerações futuras. E temos nela as possibilidades da crítica. Negando a teoria, o empirismo objetivista nega simultaneamente as possibilidades da crítica. 

Assumir a perspectiva do empirismo objetivista é negar a dimensão do modo ontológico de sermos. Modo de sermos dialógico, eu-tu. Que, na pontualidade de sua instantaneidade momentânea, está para aquém da dicotomização sujeito-objeto. A instantaneidade momentânea da vivência compreensiva do modo ontológico, fenomenológico existencial, dialógico de sermos, é pré-reflexiva, implicativa, pré-teórica. E é, por isso, própria e especificamente empírica. Mas um empirismo fenomenológico existencial, do modo dialógico de sermos, que é o modo de srmos da ação, da atualização, da interpretação fenomenológico existencial, compreensiva, e implicativa. O modo de sermos do acontecer,  modo de sermos da criatividade.. Diferentemente do empirismo objetivista, do modo de sermos do acontecido.  E que naturalmente conduz ao modo teorético de sermos. 

O emprismo fenomenológico, portanto, não briga com a teoria. Não a rejeita, nem tem um preconceito contra ela.

A perspectiva da ontologia e da epistemologia ontológicas, fenomenológico existenciais, não obstante, têm muito claro que a teoria, o teorético, o modo explicativo de sermos, não têm em si a sua origem e sua originalidade. O modo teorético e explicativo de sermos é o modo de sermos do acontecido. Modo de sermos não intensional, e não implicativo, que não é vivência de possibilidades, não é ação, não é acontecer. E no qual o acontecido coisificado só se repete e re(a)presenta. 

O modo de sermos do acontecido, que é o explicativo, decorre naturalmente do modo de sermos ontológico, implicativo, fenomenológico existencial e dialógico, que é o modo de sermos da vivência da atualização de possibilidades, modo de sermos da ação, da atualização, da atualidade; o modo, portanto, de sermos do acontecer.

Sendo assim, a teorização de base fenomenológico existencial, compreensiva e implicativa, se produz sempre empiricamente. É, sempre, criação, é sempre ação e atualização de possibilidades inéditas. Que, na vivência compreensiva e implicativa de seu desdobramento, de seu acontecer, devêm e se constituem como teoria, como explicação, como o modo teorético e explicativo de sermos, à espera do retorno ao modo ontológico. 

A teorização, numa abordagem fenomenológico existencial, nunca é teórica, nunca é explicativa. É ação, interpretação e criação efetivamente. Nunca é um rearranjo de elementos teóricos abstratos. Mas é, efetivamente, a teorização gerada hermenêutica e implicativamente, criativa e produtivamente na ação, no processo de atualização de possibilidades... Estética.. Poiesis, poiética. A atualização do novo, do inédito, decorrente da vivência sempre renovada da atualização de possibilidades. É assim que se produz a teoria ontológica, fenomenológico existencial e dialógica, compreensiva, gestáltica e implicativa. Sempre criação, e nunca descoberta.

Nunca é muito relembrarmos a Nietzsche, em particular quando se trata de Gestalt: e mesmo no conhecimento só encontrei vontade de criar.

 
 
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